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A pressa dos bancos e a exclusão das pessoas com deficiência visual pelo reconhecimento facial



Já parou para pensar em como seria constrangedor para uma pessoa com deficiência visual que tem estrabismo ou outras deformações nos olhos ter que se submeter a um processo de reconhecimento facial? É comum ouvirmos falar sobre essa tecnologia como algo moderno e eficiente, mas pouco se discute sobre os riscos e violações de direitos que ela pode trazer para pessoas com deficiência visual.


Os bancos financeiros têm cada vez mais usado a tecnologia que também é conhecida como Biometria Facial. Mas há diversos riscos e problemas, entre eles o constrangimento por parte significativa da população brasileira que também tem o direito de usar os serviços bancários.


O reconhecimento facial é um método tecnológico de identificação de características únicas. Ou seja, é um processo que permite, através do escaneamento do rosto, diferenciar as pessoas e validar uma identidade. É uma tecnologia que utiliza algoritmos para identificar uma pessoa por meio da análise de características faciais únicas, como formato do rosto, olhos, nariz e boca. Parece algo futurista, mas na verdade, estamos cercados por essa tecnologia em nosso cotidiano. Muitos celulares já utilizam essa tecnologia para desbloqueio, e muitos bancos têm adotado essa tecnologia para a abertura de contas.


Porém, o uso dessa tecnologia pelos bancos tem gerado muita polêmica e preocupação, principalmente quando se trata dos direitos das pessoas com deficiência visual. O processo de reconhecimento facial pode ser um grande obstáculo para essas pessoas, que não possuem as mesmas características faciais que as pessoas sem deficiência visual.


Além disso, muitos desses algoritmos utilizados para o reconhecimento facial são treinados com dados enviesados, o que pode levar a erros de identificação e discriminação de pessoas de grupos minoritários. Um estudo realizado pela Universidade de Michigan apontou que esses algoritmos apresentaram erros de identificação de até 35% em pessoas de pele mais escura.


Os bancos argumentam que o uso da tecnologia de reconhecimento facial agiliza o processo de abertura de conta e aumenta a segurança, mas será que eles estão realmente pensando no ser humano com deficiência visual? Um estudo realizado pela organização americana National Disability Rights Network apontou que o uso dessa tecnologia pelos bancos viola os direitos das pessoas com deficiência visual e deve ser proibido.


Além dos problemas com as pessoas com deficiência visual, a tecnologia de reconhecimento facial também apresenta outro problema grave: o viés racial. Isso acontece porque a maioria dos algoritmos são treinados com bancos de dados que possuem maior representatividade de rostos de homens brancos, o que torna o sistema menos eficiente para identificar rostos de pessoas que não são homens e brancos.


Os riscos associados ao viés racial no reconhecimento facial são significativos. Primeiramente, pode haver disparidades na precisão do reconhecimento, com taxas de erros maiores para certos grupos raciais ou étnicos. Isso pode resultar em indivíduos sendo identificados incorretamente ou enfrentando discriminação injusta, seja em aplicações de segurança, processos de seleção ou em outras áreas onde o reconhecimento facial é utilizado como nos bancos.


Especialistas apontam que esse viés pode levar a falsas acusações e prisões injustas, além de aumentar a discriminação e desigualdade. Portanto, é preciso ter cautela ao adotar tecnologias de reconhecimento facial e garantir que elas sejam desenvolvidas com uma abordagem mais inclusiva e equitativa.


Um exemplo disso são os diversos relatos de pessoas com deficiência visual participantes do projeto Mulheres de Visão que não conseguem abrir uma conta em um banco que pede o reconhecimento facial. Segundo elas, o processo é extremamente constrangedor e uma violação de direito como cidadãs.


"É realmente constrangedor expor o nosso rosto para uma câmera e ser submetida a esse tipo de rastreamento para confirmar quem eu sou. Além disso, pessoas com estrabismo dificilmente conseguem ser identificadas pelo sistema por uma questão de foco. Me sinto mal e impotente.". Relata Erika Xavier que é uma pessoa com deficiência visual. Esse é apenas um exemplo de como essa tecnologia pode trazer mais danos do que benefícios.


Portanto, é preciso repensar o uso do reconhecimento facial pelos bancos e garantir que os direitos das pessoas com deficiência visual sejam respeitados. Essa tecnologia pode ser uma ferramenta útil em alguns casos, mas não pode ser usada como uma solução universal para todas as situações. É preciso ter empatia e considerar todas as pessoas envolvidas antes de adotar qualquer tecnologia que possa afetar sua privacidade e seus direitos.


Você sabia que pessoas com deficiência são frequentemente negligenciadas no que diz respeito a tecnologias de reconhecimento facial, em detrimento do designer ou da estética? Embora a intenção seja muitas vezes proporcionar conveniência e agilidade, essa tecnologia pode se tornar um grande obstáculo para as pessoas com deficiência visual, tornando-se uma violação de seus direitos.


É fundamental entendermos que a acessibilidade deve ser uma prioridade em qualquer inovação tecnológica, e que o desenho dessas tecnologias deve considerar as necessidades de todas as pessoas, sem exceção. Nesse sentido, a questão do reconhecimento facial é uma questão de inclusão e igualdade de direitos, que não pode ser negligenciada ou deixada de lado.

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